Artigos

AS EMPRESAS E A RESPONSABILIDADE NA SAÚDE MENTAL DOS COLABORADORES
Portugal é o segundo país com maior taxa de doenças psiquiátricas, lidera no consumo de ansiolíticos e antidepressivos entre os países da OCDE, ansiedade e depressão é o novo normal, síndrome de stresse por covid-19 e outros, pedem urgência na acção.
Muito se fala sobre saúde mental e é comum a expressão “é muito importante tomar medidas nessa área”. No entanto, quando se pergunta ao orador quando foi pela última vez ao psicólogo a reposta é, normalmente: “nunca”.
Da mesma forma que é aconselhável realizar análise clínicas anuais ou ir ao dentista pelo menos uma vez por ano, a ida ao psicólogo deveria ser também comum e pelo menos anualmente.
Entendo que, mais que uma questão de sensibilização para prevenção na área da saúde mental, há uma razão económica e disponibilidade de rendimento para que a ida ao psicólogo não seja uma normalidade.
Tomemos este exemplo: basta referir ao médico de família que dormimos mal, que temos ataques de ansiedade, que estamos “em baixo” para que seja receitado um ansiolítico “para ajudar”. A parte não comparticipada ronda os 2€ e uma caixa dará, em teoria, para 2 meses.
São substâncias que dão mais tolerância para suportar determinada situação, mas que causam habituação e é normal que a pessoa continue a tomar sem necessidade.
Os Custos…
A primeira tentação é comparar o custo de uma consulta com o médico de família (incluindo o tempo de falta ao trabalho) e os 2€ para a caixa de ansiolíticos. Tendo isto em conta, o “custo” (deveria ser um investimento) de uma consulta com um psicólogo começa nos 40€…
Esta abordagem será eficaz no curto prazo, no entanto no longo prazo poderá ter efeitos indesejados e dificilmente trará uma melhora de bem estar à pessoa.
Se no curto prazo se “resolve” há consequências a longo prazo que têm um impacto negativo na vida das pessoas.
Considerando que o orçamento público para esta área é muito incipiente e é mais focado para pessoas que já apresentam sintomas de patologias, há um papel das empresas apostarem na componente de prevenção e da redução de consumo de psicofármacos das suas equipas.
O que as empresas poderão fazer…
- Em primeiro lugar, disponibilizar soluções de apoio psicológico financiadas, ou cofinanciadas pela empresa visto que a oferta de consultas de psicologia nos seguros de saúde é limitada ou muito onerosa. As soluções de psicologia online permitem às empresas ter acesso a “pacotes” mais em conta para disponibilizar aos seus colaboradores;
- Em segundo lugar, garantir a confidencialidade dos colaboradores que utilizam este tipo de serviços. O que interessa a uma empresa é que estes tipos de serviços sejam utilizados, independentemente de quem, contribuindo para não estigmatizar;
- Sugerir, sensibilizar e disseminar a importância de cuidarmos da nossa saúde mental. Ir ao psicólogo é algo perfeitamente normal. Ir ao psicólogo não é só em caso de depressão, mas sim também procurar evoluir como pessoa, ajudar a ter estratégias de priorização, ser mais produtivo, etc… Dar o exemplo e partilhar que “eu vou ao psicólogo”;
- Não menos importante, garantir que os serviços são providenciados por psicólogos credenciados pela Ordem de Psicólogos Portugueses. Existem muitos serviços com boas intenções, cursos disponíveis, mas a utilização desse tipo de serviços poderá criar mais problemas de saúde mental do que se propõem a resolver;
- Tomar consciência que não existem soluções rápidas, felicidade imediata, remédios rápidos. É um trabalho constante se queremos que a nossa equipa tenha uma boa saúde mental.
Publicado em Março 19, 2021